sábado, 27 de agosto de 2011

Teoria da Mente.



 Hoje, 27 de agosto, comemoramos o dia do psicólogo. Como manda a  boa cartilha do politicamente correto, devemos sempre dizer e escrever "do psicólogo" e "da psicóloga", até por que, acredito que o número de mulheres ainda é bem superior ao de homens exercendo essa profissão.
É bastante comum em datas comemorativas, buscarmos sempre algo especial para mostrar, algo que nos represente, que sintetize aquilo que somos, temos, pensamos ou fazemos. Dada a já conhecida diversidade da Psicologia, a tarefa de encontrar algo comum às mais diferentes maneiras de defini-la, de dellimitar o seu objeto de estudo e de agir consoante com esses princípios, se torna praticamente (senão totalmente!) impossível. Todavia, entre a imponderável e "obsoleta" ALMA (termo presente na raiz etimológica da palavra Psicologia, praticamente em desuso na atualidade) e o pretensamente objetivo COMPORTAMENTO (o Behaviorismo chegou a ser cogitado como o nome mais adequado para substituir Psicologia), creio que grande parte daqueles que fazem parte do nosso métier aceitam que a MENTE (com toda polissemia que o termo carrega), mesmo não sendo o único, é o principal objeto de estudo da Psicologia.
Em verdade, a capacidade de "ter acesso" ao conteúdo mental de outrem não é um privilégio exclusivo dos psicólogos ou de outros profissionais da área PSI. O que nos diferencia das outras pessoas é, certamente, a qualidade deste acesso, já que a inferência de estados mentais como crenças, desejos, sentimentos, etc., é uma característica fundamental na espécie humana. Desde o famoso artigo dos primatologistas David Premack e Woodruff (1978), há um intenso debate sobre a possível existência de uma Teoria da Mente em primatas não humanos. Teoria da Mente (Theory of Mind), aliás, foi o termo proposto por esses últimos autores que inauguraram um campo de pesquisa bastante profícuo e de significativo valor para a compreensão do comportamento humano.

Representação esquemática
da prova de falsa crença.
  Teoria da Mente (vale a pena ler Jou & Sperb, 1999) diz respeito à capacidade de imputar estados mentais (como conhecimento, crenças, desejos, intenções) a si mesmo e aos outros indivíduos. A despeito das variações decorrentes das abordagens teórico/metodológicas, estima-se que as crianças adquirem essa capacidade entre os 3 e 5 anos de idade. O critério mas comumente utilizado (como tudo em psicologia, também sujeito a críticas) para avaliar a conquista desta capacidade é o desempenho das crianças na chamada prova de falsa crença. Como bem representado no vídeo abaixo e esquematizado na figura ao lado, a prova de falsa crença consiste em solicitar aos participantes que antecipem o comportamento de uma determinada personagem (geralmente uma boneca) que não possui o mesmo conhecimento sobre a situação que o sujeito que deve prever possui. Se este sujeito afirma que a personagem irá se comportar de acordo com a informação que ele tem (mas ela não), isto significa que ainda não desenvolveu plenamente a teoria da mente. Se o sujeito, entretanto, abstrai o seu próprio conhecimento e consegue pensar a partir do conhecimento (neste caso, do que falta) do outro, significa que ele se encontra em outro patamar de desenvolvimento, tendo adquirido (ou construido) uma Teoria da Mente.
Esta capacidade, desenvolvida ao longo da nossa trajetória filogenética, foi para oa nossos ancestrais e é, ainda hoje, crucial para a nossa vida em sociedade, pois nos ajuda a lidar com os outros a partir de um ponto de vista que não é unicamente o nosso, tornando-nos capazes de comunicar, predizer comportamentos, reconhecer sentimentos, estabelecer relações de empatia e cumplicidade. Sem esse componente no nosso amplo leque de habilidades, talvez não chegássemos a constituir sociedades organizadas. Se conseguíssemos, seria certamente uma sociedade de autistas, já que diversos estudos têm demonstrado que o autismo é uma patologia decorrente de um problema no desenvolvimento da teoria da mente.
A partir, portanto, de teorias SOBRE a mente (ou sobre o funcionamento mental, a consciência, a alma ou o comportamento) os psicólogos (e também os educadores!!!) devem buscar dar continuidade ao desenvolvimento da sua Teoria da Mente natural, para que possa exercer da melhor maneira possível essa tarefa de compreender o outro em qualquer que seja o contexto de atuação. 




terça-feira, 26 de julho de 2011

Matemática qualitativa!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

É o amor??????




Definitivamente, após alguns anos trabalhando na área, não me cabe mais adotar uma visão romântica da educação. Pelo contrário, acredito que só se pode mudar o que está aí, e que é de conhecimento de todos, pela via do profissionalismo, da competência, da responsabilidade, da ética e do compromisso político e social. Resumindo, precisamos de bons profissionais trabalhando em todas as esferas cujas decisões tenham alguma repercussão no currículo e nas práticas pedagógicas por ele orientadas. 
Não acredito, por exemplo, que para ser um bom professor ou uma boa professora, a pessoa tenha que, inexoravelmente ter nascido com aquele "dom" particular, que faz tudo ficar fácil, que consegue educar bem, a despeito de todas as dificuldades que possam se apresentar entre a sua intenção de ensinar e a efetiva aprendizagem de seus alunos. Essa visão inatista da origem de nossas capacidades, parece ter o propósito de valorizar os mais habilidosos, alçando-os a um seleto grupo de agraciados (por Deus?!?!) com uma característica rara entre seus pares. Do meu ponto de vista, entretanto, a idéia de uma competência pedagógica herdada geneticamente (ou doada pelo Divino), despreza o esforço para se obter aquilo que vai garantir a todos os professores (e não a uns poucos eleitos) a possibilidade de ensinar bem: Uma sólida formação nas disciplinas que deve ensinar; uma não menos sólida competência pedagógica que permita empreender ações didáticas adequadas a cada sujeito que aprende; condições de trabalho que dêem suporte e possibilitem a criatividade e a variedade das práticas pedagógicas; e salários e demais incentivos à altura  da importância e da complexidade que caracterizam a profissão.
Reconheço, todavia, que apresentados desta maneira, meus argumentos parecem defender um tecnicismo, um racionalismo, ou qualquer desses "ismos" que não contemplem o aspecto afetivo/emocional de toda ação humana. De fato, não acredito que somente pela via da competência racional se possa recrutar bons profissionais para a área educacional ou para qualquer área, mormente aquelas nas quais estes profissionais têm que lidar diretamente com pessoas.
Ciente que sou da inseparabilidade (?!?!?!) da díade razão/emoção em qualquer de nossos atos, nos últimos dias fui "convidado" a pensar sobre este assunto num outro patamar, qual seja: O do amor! Me explico... Em uma dessas redes sociais - que inevitavelmente dizem mais sobre alguém do que as poucas linhas nas quais a pessoa se descreve -, percebi a forma carinhosa e cheia de admiração e cumplicidade com que uma professora e seus alunos e ex-alunos se tratavam. Interessado que fico, toda vez que vejo um/a bom/boa professor/a, resolvi expressar a minha alegria e parabenizá-la pela sua relação com os estudantes. Assim, então, me respondeu ela:
"- É um amor tão grande que tenho pelo que faço que acho que meus alunos percebem isso. Eu aprendo tanto com eles, Iron, que, na verdade, eu é que tenho que agradecer a oportunidade e o carinho que eles me dão..."
Obviamente, me senti tocado (talvez até um pouco incomodado) com este curto depoimento. Mas, devo admitir, que se não concordo com a visão romântica da educação, à qual me referia no início deste texto, tampouco posso acreditar que alguém consiga atingir o reconhecimento naquilo que faz, sem esse amor (excetuando os bandidos, por motivos que julgo óbvios). Se o empenho cognitivo e um forte vínculo afetivo podem levar à competência, estou inclinado a crer que a esses elementos deve ser acrescido o amor para que se obtenha a excelência.
Não consigo visualizar um Jean Piaget, um Alan Baddeley, um Henri Wallon, um Lev Vygotsky, um Paulo Freire, ou qualquer desses grandes nomes, de idéias férteis e vasta produção, que não amassem profundamente aquilo que faziam e para quem faziam. Esse sentimento levou estas e outras pessoas ilustres a trabalhar incansavelmente, mesmo doentes ou em idades avançadas. E isso não se consegue funcionando apenas do "pescoço para cima". É preciso vibrar com todo o corpo a cada nova idéia, a cada hipótese confirmada, a cada pequeno avanço teórico, a cada contribuição ao conhecimento. Como os apaixonados, é preciso dar valor às pequenas coisas, para com elas, se construir grandes obras.
Acho que os vídeos que acompanham esse texto são uma pequena, porém significativa, demonstração do que pode esse sentimento. Neste mar de queixas, de descaso e de desrespeito que se tornou a nossa educação pública, podemos ver duas ilhas de envolvimento e competência transformando radicalmente a vida de estudantes que tinham encontro marcado com o fracasso em um futuro mais ou menos distante. Creio que são bons exmplos para fortalecer aquela nossa vontade de mudança, por vezes enfraquecida pelo pessimismo circundante.
Finalizo lembrando as palavras repetidas do Renato Russo: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria..."

domingo, 8 de maio de 2011

Em tempos de copa...

sábado, 7 de maio de 2011

Sobre zagueiros e atacantes...



           
            Sempre achei o futebol uma caixinha de metáforas. Expressões correntes no meio futebolístico podem ajudar a refletir sobre situações – às vezes difíceis – dos mais diversos contextos da nossa vida: “- treino é treino, jogo é jogo”; “- quem não faz, leva”; “- são 11 contra 11”; “cumprir tabela”...
             Creio que, a despeito de toda esquematização tática, que especializa a atuação dos atletas em funções muito específicas, podemos dividir os jogadores em dois grandes grupos: os defensores (ou zagueiros) e os atacantes. Está bem... Sei que têm os meio-campistas. Mas, se repararmos bem, uma parte deles dedica-se a defender, e outra, a “armar” as jogadas de ataque. Sendo assim, podemos ficar com essa divisão em dois grupos.
            Os zagueiros são, quase sempre, pouco habilidosos. Quem já jogou bola sabe que a tendência de toda criança é querer jogar o mais perto possível dá área adversária, para poder fazer muitos gols. Entretanto, permanecer atuando nessa faixa do campo vai depender da sua capacidade. Caso não se comprove, perdem-se posições em direção ao próprio gol, sendo que a pena máxima para quem não demonstra nenhuma intimidade com a bola nos pés, é jogar de goleiro!
            A falta de habilidade desses que jogam mais recuados, parece ser compensada com o excesso de vontade. Zagueiros costumam ser voluntariosos, gostam de demonstrar virilidade, uma força extra que os mirrados atacantes não teriam. Aliás, essa coisa de demonstrar virilidade, faz parte da composição do personagem e não pode ser vendida separadamente. Zagueiros devem ser grandes, fortes, mal-encarados e com apelidos no aumentativo.
            “Ossos do ofício”, diriam seus simpatizantes. Afinal de contas, a função desses abnegados é desarmar as jogadas, destruir aquilo que os abusados e habilidosos atacantes constroem com invejável talento. Às vezes, a coisa fica feia, e é preciso matar o lance, antes que nasça o gol adversário. Bem... Alguém tem que fazer o trabalho sujo! E nesse trabalho, devemos incluir outra tarefa bastante cara aos defensores: dar bronca no próprio time, toda vez que uma bola passa com perigo, perto da própria trave. Zagueiro que é zagueiro tem que fazer isso aos berros e com cara de muito zangado.
            Zagueiros se preocupam apenas com o "placar final". Querem vencer mesmo jogando mal. São adeptos do futebol de resultados. Por falar em resultados, dada a sua pouca destreza, zagueiros não costumam fazer gols. Quando o fazem, não costuma ser em jogadas de criatividade, senão nas chamadas “jogadas ensaiadas”, que, como o próprio termo sugere, são frutos do exercício e da repetição exaustiva.
             Uma coisa é certa: por motivos que julgo óbvios, zagueiros não gostam de atacantes! Todo drible, toda firula, toda jogada que faça o público vibrar pela sua plasticidade, é tomada como ofensa, como desrespeito, e terá as suas conseqüências. Se escapou agora, pode esperar que na próxima virá chumbo grosso. Zagueiros não costumam esquecer.
            Os atacantes, por sua vez, são sujeitos mais leves, em todos os sentidos (sei... esqueçamos momentaneamente algum fenômeno que fuja à regra...). Atacantes vivem sorrindo, têm visual mais fashion, apelidos no diminutivo, além de serem muito, muito criativos. Têm um vasto repertório e ainda gostam de inventar jogadas, pois querem melhorar sempre. Apreciam a estética do lance, tanto quanto o seu resultado prático, daí que são capazes até de aplaudir o adversário por algum lance genial. Por isso não lhes interessa apenas ganhar, querem realizar partidas memoráveis.
Como dispõem de autonomia e grande capacidade de adaptação, estão em toda parte do campo, conduzindo a bola ou fazendo-a rolar com maestria, de pé em pé, até o fundo das redes adversárias. Colocar o companheiro na cara do gol, para que este possa finalizar com tranqüilidade, tem o mesmo valor que marcar ele mesmo o gol.
            Atacantes são lembrados pelo que fazem (ou pelo "quase", como no vídeo do Pelé, postado abaixo). Zagueiros, pelo que desfazem...
            Talvez não seja exagero dizer que também temos dois grupos muito parecidos de professores: os professores zagueiros e os professores atacantes. Os professores zagueiros são sempre muito secos. Em hipótese alguma permitem gracinhas em sala. Para eles, o riso é sinal de pouca produtividade e de desrespeito. A alegria não faz parte do conteúdo, por isso, não a consideram importante.
Dada a pouca habilidade com a matéria, professores zagueiros não gostam de perguntas. Como são imprevisíveis, elas interferem no planejamento construído durante anos de exercício e repetição (o velho caderninho amarelado), o que levou à inflexibilidade que não comporta mínimas mudanças de script. Portanto, quando respondem, o fazem de maneira seca e precisa, desarmando qualquer intenção de tornar a indagar. Professores zagueiros matam a curiosidade na nascente. Tampouco admitem respostas errôneas, pois estas representam falta de atenção e de vontade, coisas que para eles são indispensáveis, pois são tudo que têm para oferecer aos seus alunos.
Professores zagueiros não se afastam da pequena área compreendida entre a sua carteira e a lousa. Também não gostam de alunos que desta zona se aproximam. Acreditam que a distância (física e psicológica) ajuda a manter o controle da situação e a ser duro quando for necessário (e quase sempre é...). Não raro, atuam como se fossem árbitros, penalizando duramente os que cometem erros e expulsando da sala aqueles considerados indisciplinados.
Professores atacantes são raros. Talvez por isso sempre nos lembramos dos poucos que tivemos. Caracterizam-se por um sólido conhecimento da sua disciplina e uma grande habilidade para ajudar os seus alunos a aprendê-la. Ao invés de falar o tempo todo, optam pelo diálogo, perguntando e respondendo, como se fizessem com que o conhecimento rolasse não de pé em pé, mas de cabeça em cabeça. São craques em transformar os erros dos alunos em questões para pensar, estimulando com isso a participação e melhorando a auto-confiança destes últimos.
Professores com estas características costumam ter um repertório amplo de estratégias de ensino e sabem o momento ideal para colocá-las em ação, adaptando-as às necessidades de seus alunos, e não o contrário. Se para os professores zagueiros os alunos se dividem em bons e maus, para os professores atacantes eles são únicos, cada um com suas potencialidades e limitações, e acreditam que a tarefa docente consiste em maximizar as primeiras e minimizar as últimas.
O objetivo dos professores atacantes não é somente a nota no boletim, como se fosse o resultado da partida registrado no placar. Eles sabem que o fim de toda educação é favorecer a autonomia das pessoas na sua vida cotidiana, e para isso, o que se aprende na escola deve servir de treino para o mundo fora dela. Por isso, estes professores trazem um pouco desse mundo para dentro da escola, aproveitando todas as chances de demonstrar a utilidade do conhecimento para as situações decisivas que seus alunos enfrentarão.


domingo, 24 de outubro de 2010

Inclusive, incluindo...





Não será difícil, após um brevíssimo sobrevoo histórico, chegar à conclusão de que a divisão social calcada na idéia de que existem pessoas que têm mais valor que outras, parece ser uma “inclinação”, ou forte tendência, do comportamento humano.Os nossos livros de história, da educação básica, nos lembram da cidade de Esparta, onde aqueles bebês nascidos com algum tipo de defeito físico eram sumariamente assassinados. A própria Grécia antiga, considerada por muitos o berço da cultura ocidental, bem como das idéias fundadoras da democracia, fazia uma distinção clara dos papéis de cidadãos homens, mulheres e escravos na dinâmica da participação política, reservando apenas aos primeiros, o direito de decidir os rumos da sociedade da época.

A escravidão, aliás, que nada mais é que suprimir, de indivíduos ou grupos sociais e/ou étnicos, direitos essenciais à dignidade humana, foi, ao longo de toda antiguidade e Idade Média, uma prática comum e aceita nos diversos sítios do nosso planeta. A despeito do pensamento generalizado de que esta é uma prática inaceitável nos dias de hoje, não podemos dizer que estamos totalmente livres dela. A estruturação de algumas sociedades pelos sistemas de estamento e castas, como por exemplo no feudalismo e na sociedade indiana, também reflete claramente esta idéia de que alguns indivíduos são nitidamente melhores do que outros, pelo simples fato de terem nascido em uma determinada família e sem que tivessem que fazer nenhum esforço para conseguir o status de privilegiado. A segregação de grupos étnicos, como negros, judeus, ciganos, etc. ainda é algo vivo na nossa memória histórica, e aqui e ali, representantes desses grupos ainda sofrem as consequências da sua ascendência, tendo muitas vezes que empreender grandes esforços para que direitos garantidos por lei, possam ser, por eles, desfrutados.

Para não deixar de lado a nossa própria filiação teórica e profissional, devemos lembrar que a Psicologia foi, em muitos momentos, uma ciência que colaborou com a manutenção das desigualdades sociais, tentando explicar “cientificamente” que era justo que pessoas com qualidades diferentes tivesses privilégios diferentes na sociedade. Desde Franz Joseph Gauss, no século XVIII, com a proposta de avaliar as características humanas por meio da Frenologia, passando por Sir Francis Galton, no século XIX, com a proposta do melhoramento da espécie por meio da Eugenia, até chegar aos testes de inteligência, instrumento que mais caracteriza a atuação do psicólogo, a Psicologia apresenta uma passado não muito louvável na defesa da igualdade de direito entre as pessoas. A discussão sobre a real utilidade dos testes de inteligência, desde sua primeira versão, proposta por Alfred Binet, no início do século passado, ainda tem muita força em algumas sociedades, principalmente nos EUA, onde a economia que mantém o sistema educacional depende fundamentalmente desses instrumentos de avaliação (supostamente) das capacidades humanas.

A universidade, instituição seletiva e elitista por natureza e tradição, tem obrigação de contribuir para mudar o curso dessa história. Ao empenho teórico de criticar idéias arcaicas e propor novas formas de pensar a relação entre os indivíduos e a diversidade que os rodeiam, deve-se agregar os exemplos práticos, mostrando à sociedade uma postura coerente, que deve ser seguida se pensamos em um mundo mais inclusivo e acolhedor. Espero que os vídeos dessa postagem possam contribuir para que reflitamos sobre a inclusão em um setor tão representativo para a chamada "opinião pública".



segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Emergência!!!



Uma das postagens deste blog que mais gerou discussão foi a que tratava da lousa digital. A utilização de tecnologia em sala de aula, ainda é um tema controverso, e, pelo que pude perceber, alvo da resistência de muitas pessoas ligadas à educação. Em função disso, resolvi abordar o tema apartir de uma outra perspectiva. Uma perspectiva contrária á morosidade das mudanças no âmbito da educação. 
É certo que não considero que toda mudança seja, em si, positiva. Mudar por mudar, mudar para parecer moderno, jovem, atual ou avançado, sendo esta mudança superficial, obviamente, não deve ser a meta de nenhum sistema educacional que objetive a qualidade das suas ações.  As transformações deste sistema devem atender exclusivamente às melhorias nas possibilidades de desenvolvimento dos potenciais humanos. Mormente, aqueles que levarão os indivíduos a estabelecerem uma relação mais profícua e harmoniosa consigo mesmo, com os outros e com a natureza.
Por outro lado, devemos mesmo reconhecer que não é fácil mudar. A mudança gera desconforto, insegurança, medo. O novo, por vezes, assusta. Não nos acostumamos (boa parte de nós) a lidar com as incertezas, as imprevisibilidades, com o acaso como principal parceiro do nosso destino. Preferimos, muitas vezes, lidar com a monotonia da rotina, com a certeza de já ter visto esse filme e nunca ficarmos chatedos se alguém nos conta o final, pois também já sabíamos.
Ter coragem para mudar, entretanto, é tão necessário quanto urgente, quando constatamos que o preço da manutenção de comportamentos atávicos é o fracasso na vida de centenas de milhares de crianças e jovens que não conseguem aprender nesta escola que aí está.  Quantas vezes teremos que repetir aos saudosistas de plantão, que o mundo mudou, o mundo mudou, o mundo mudou, o mundo mudou, o mundo mudou!!! Acho que nem eles gostam dessa repetição...
  


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Por falar em eleições...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sex machine???



Pediram-me para que eu opinasse sobre uma matéria exibida ontem (05/09/2010), no programa dominical Fantástico, que discutia uma iniciativa do Governo Federal de colocar máquinas que distribuem preservativos em escolas públicas do ensino médio. Reproduzo, abaixo, o vídeo com a reportagem, para aqueles que, como eu, também não assistiram ao programa.
Apresentarei, aqui, meu ponto de vista sobre o tema. Mas, de saída, preciso deixar claro que não é um assunto sobre o qual eu tenha domínio. As questões relativas à educação sexual  e à saúde pública, nunca ocuparam lugar central em meu espectro de interesses. Sendo assim, ficarei tão satisfeito quanto aliviado, se algum dos visitantes desse blog puder trazer argumentos mais consistentes, para que, coletivamente, possamos refletir melhor sobre a referida iniciativa governamental.
Eu sou a favor da facilitação ao acesso da camisinha para os adolescentes. A ação do Ministério da Saúde se baseia em dados que apontam que essa população já tem uma vida sexual ativa. Contudo, nem todos eles dispõem de informação para solicitar os preservativos nos postos de saúde ou poder aquisitivo para comprá-los na farmácia. A distribuição gratuita e anônima, realizada por uma máquina colocada nos banheiros das escolas, pode (talvez!!!) levar a uma popularização do seu uso e uma consequente diminuição da proliferação de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e dos índices de gravidez precoce e indesejada.
Em relação ao argumento de que o acesso livre aos preservativos, em ambiente escolar, banalizaria o ato sexual e induziria os adolescntes a uma prática indiscriminada, creio que é uma posição preconceituosa, de quem não tem paciência para observar os comportamentos humanos. Não me consta que adolescentes (e também adultos) saudáveis precisem de fatores externos para "motivá-los" à prática do sexo. Logo após a puberdade, o sexo passa ser o tema central dos pensamentos, sonhos e conversas dos meninos e meninas que ainda estão se acostumando como seu corpo "novo". As únicas coisas que os impedem de transformar essas "imagens mentais" em atos são a timidez, a falta de oportunidade de ficarem a sós, a falta de parceiros (as) ou uma sólida educação familiar, que os levem a refletir se aquele/a é o/a momento/pessoa ideal para dar vazão ao seu desejo. 
Pensar que a grande maioria dos adolescentes, diante da possibilidade de ter uma relação sexual, não o fará por que não dispõe de preservativo no momento, é apostar demais numa racionalidade que, definitivamente, não entrará em jogo nessas situações. Quando observamos os números sobre a AIDS, vemos que mesmo os adultos não têm o auto-controle esperado para os adolescentes, sabidamente mais impulsivos e inconsequentes. Se a camisinha não motivará, e a falta dela não impedirá a concretização do ato sexual, tê-la à mão neste momento pode sim evitar que se corram riscos desnecessários e sofram consequências desagradáveis pelo resto de suas vidas. 
Quanto à ideia de que a distribuição de camisinha banalizaria o sexo, é só ficar atento aos meios de comunicação para perceber que o sexo já está banalizado. Nos noticiários, nos programas de auditório vespertinos, nas novelas infanto-juvenis, nos vídeos "acidentalmente" postados na internet, enfim, temos uma banalização e vulgarização do comportamento sexual. E, nesse sentido, nossa sociedade ainda guarda a hipocrisia habitual em relação ao assunto, pois acha o máximo quando as celebridades revelam na TV qual o lugar mais "estranho" que já fizeram amor, mas querem expulsar alunos que foram pegos no banheiro da escola. 
Temos que aprender com a experiência. Esta experiência que se revela por meio das estatísticas, que evidenciam que o não enfrentamento da questão, por tabus, preconceito ou desinformação, resultou em AIDS, DSTs, mães e pais precoces e abortos clandestinos. É dever da sociedade preservar a saúde das crianças, adolescentes e jovens, bem como seu futuro, seus sonhos e sua felicidade. E isto certamente inclui a prática responsável do sexo.


sábado, 28 de agosto de 2010

Como se fosse gente grande...







O livro do Philippe Ariès - "História Social da Criança e da Família" - é uma referência obrigatória para quem quer compreender as mudanças na concepção de infância na nossa cultura ocidental. Nesta obra, o autor descreve a maneira como se lidava com os infantes, que, para o pensamento da época, não passavam de "adultos em miniatura", expressão que já ficou popular dentre os que tratam do tema.
"Rainha Henrietta Maria"
Frans Pourbus Séc XVI
Mais recentemente, ainda em nossa cultura, com a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da probabilidade de sobrevivência, resultado dos avanços sócias e das condições de saúde, os filhos das classes sociais com algum poder aquisitivo, deixaram de ser importantes na composição do orçamento doméstico. A concepção de criança foi sendo pouco a pouco "infantilizada". Com os avanços das teorias psicológicas, passou-se a enxergar os primeiros anos de vida como uma etapa diferenciada no desenvolvimento das pessoas, com repercussões duradouras sobre o restante de suas vidas.
"Retrato de Criança"
Mirabello Cavalori Séc. XVI
A infância seria, portanto, uma fase de liberdade, onde a felicidade deve estar sempre presente (pelo menos, em tese), e quem se encontra nesta etapa da vida, caracteriza-se por diferenças não apenas quantitativas, mas principalmente qualitativas,em relação àqueles que a ultrapassaram.
 A despeito de toda essa mudança na maneira de se conceber a infância, os tempos atuais parecem querer reviver a idéia de criança como "adulto em miniatura". Se o trabalho infantil é visto como nocivo para o bom desenvolvimento, sendo combatido pelas autoridades e organizações pró-criança, o consumo nessa faixa etária ainda não parece incomodar aqueles que fazem nossas leis.
O que resulta desse descaso de uma parte da nossa sociedade (família, governo, escola), é uma "brecha" significativamente bem aproveitada por uma outra parte (indústria, comercio e serviços), que se utiliza do lugar central das crianças nas famílias de hoje, para induzi-las ao consumo desenfreado, inculcando e antecipando em meninos e meninas, aspectos negativos do comportamento de homens e mulheres, cada vez mais preocupados com o acúmulo material, com a aparência, com a frivolidade e a ostentação.
O primeiro vídeo exibido nesta postagem é um trailer de um documentário intitulado "Criança, a alma do negócio", que pode ser baixado no site http://www.alana.org.br/, de uma organização que objetiva discutir o consumismo infantil. Há um outro documentário, sobre o mesmo tema que pode ser assistido no youtube, que se chama "Consumo de crianças - a comercialização da infância".
Os demais vídeos, são matérias sobre a vaidade infantil, um dos principais motores do consumo, já que a indústria da beleza dispõe de um leque bastante amplo de possibilidades (e preços!!!) para aqueles que desejam (ou são levados a desejar) estar sempre acompanhando as tendências da moda. É importante salientar, que nenhum dos comportamentos resultantes da influência da mídia sobre as "necessidades" da criança, são inofensivos. Além de moldar valores, eles podem ter um consequências nefastas para a própria saúde.
Vale a pena conferir!!!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Educação familiar 2.0


Gagueira não tem graça, tem tratamento!





Resolvi repetir no título desta postagem o slogan de uma campanha que achei muito interessante, pois tenta conscientizar a população a respeito de um assunto sério, que costumamos abordar quase sempre de maneiras cujo limite entre o bom humor e o desrespeito não são muito nítidos: a gagueira.
Temos visto, ultimamente, esforços de varios segmentos da sociadade, como o objetivo de fazer valer os seus direitos enquanto cidadãos. Esses direitos que foram negados ao longo da nossa história, pelo simples fato de que algumas pessoas detentoras de poder e prestígio estabeleceram um padrão de normalidade que refletia a própria imagem delas.
É verdade que a aceitação das diferenças tem sido um tema frequentemente debatido nos diversos espaços sociais e foros de discussão e que muitas ações têm nascido desse empenho para que todos tenham oportunidades de realização das suas potencialidades enquanto seres humanos. Sabemos, entretanto, que estas idéias ainda levarão um bom tempo para se transformarem em elementos culturais plenamente integrados aos nossos comportamentos de acolhimento e tolerância em relação àqueles que possuem características físicas e/ou psicológicas que fogem ao nosso padrão ideal de constituição física/comportamento. 
A gagueira, assim como outros problemas de comportamento, pode parecer engraçada aos olhos de quem assiste, mas é certamente um sofrimento para aqueles que necessitam se comunicar e são alvo de todo tipo de interferência - da gozação à repreensão - fruto da imcompreensão da maioria das pessoas sobre o que é este problema e quais os prejuízos que ele acarreta à vida de quem tem dificuldade de fluência
Já que nossa escola tem buscado ser uma escola da inclusão, uma escola de todos, os vídeos foram selecionados para essa postagem (há muito mais no youtube) com o intuito de ajudar os professores - atuais e futuros - a saber um pouco mais sobre esse problema relacionado à linguagem, como se comportar diante de quem apresenta e quais são os riscos para aqueles que falam desta maneira, quando a escola não tem as suas ações pedagógicas calcadas no princípio de respeito às diferenças.