quinta-feira, 30 de junho de 2011

É o amor??????




Definitivamente, após alguns anos trabalhando na área, não me cabe mais adotar uma visão romântica da educação. Pelo contrário, acredito que só se pode mudar o que está aí, e que é de conhecimento de todos, pela via do profissionalismo, da competência, da responsabilidade, da ética e do compromisso político e social. Resumindo, precisamos de bons profissionais trabalhando em todas as esferas cujas decisões tenham alguma repercussão no currículo e nas práticas pedagógicas por ele orientadas. 
Não acredito, por exemplo, que para ser um bom professor ou uma boa professora, a pessoa tenha que, inexoravelmente ter nascido com aquele "dom" particular, que faz tudo ficar fácil, que consegue educar bem, a despeito de todas as dificuldades que possam se apresentar entre a sua intenção de ensinar e a efetiva aprendizagem de seus alunos. Essa visão inatista da origem de nossas capacidades, parece ter o propósito de valorizar os mais habilidosos, alçando-os a um seleto grupo de agraciados (por Deus?!?!) com uma característica rara entre seus pares. Do meu ponto de vista, entretanto, a idéia de uma competência pedagógica herdada geneticamente (ou doada pelo Divino), despreza o esforço para se obter aquilo que vai garantir a todos os professores (e não a uns poucos eleitos) a possibilidade de ensinar bem: Uma sólida formação nas disciplinas que deve ensinar; uma não menos sólida competência pedagógica que permita empreender ações didáticas adequadas a cada sujeito que aprende; condições de trabalho que dêem suporte e possibilitem a criatividade e a variedade das práticas pedagógicas; e salários e demais incentivos à altura  da importância e da complexidade que caracterizam a profissão.
Reconheço, todavia, que apresentados desta maneira, meus argumentos parecem defender um tecnicismo, um racionalismo, ou qualquer desses "ismos" que não contemplem o aspecto afetivo/emocional de toda ação humana. De fato, não acredito que somente pela via da competência racional se possa recrutar bons profissionais para a área educacional ou para qualquer área, mormente aquelas nas quais estes profissionais têm que lidar diretamente com pessoas.
Ciente que sou da inseparabilidade (?!?!?!) da díade razão/emoção em qualquer de nossos atos, nos últimos dias fui "convidado" a pensar sobre este assunto num outro patamar, qual seja: O do amor! Me explico... Em uma dessas redes sociais - que inevitavelmente dizem mais sobre alguém do que as poucas linhas nas quais a pessoa se descreve -, percebi a forma carinhosa e cheia de admiração e cumplicidade com que uma professora e seus alunos e ex-alunos se tratavam. Interessado que fico, toda vez que vejo um/a bom/boa professor/a, resolvi expressar a minha alegria e parabenizá-la pela sua relação com os estudantes. Assim, então, me respondeu ela:
"- É um amor tão grande que tenho pelo que faço que acho que meus alunos percebem isso. Eu aprendo tanto com eles, Iron, que, na verdade, eu é que tenho que agradecer a oportunidade e o carinho que eles me dão..."
Obviamente, me senti tocado (talvez até um pouco incomodado) com este curto depoimento. Mas, devo admitir, que se não concordo com a visão romântica da educação, à qual me referia no início deste texto, tampouco posso acreditar que alguém consiga atingir o reconhecimento naquilo que faz, sem esse amor (excetuando os bandidos, por motivos que julgo óbvios). Se o empenho cognitivo e um forte vínculo afetivo podem levar à competência, estou inclinado a crer que a esses elementos deve ser acrescido o amor para que se obtenha a excelência.
Não consigo visualizar um Jean Piaget, um Alan Baddeley, um Henri Wallon, um Lev Vygotsky, um Paulo Freire, ou qualquer desses grandes nomes, de idéias férteis e vasta produção, que não amassem profundamente aquilo que faziam e para quem faziam. Esse sentimento levou estas e outras pessoas ilustres a trabalhar incansavelmente, mesmo doentes ou em idades avançadas. E isso não se consegue funcionando apenas do "pescoço para cima". É preciso vibrar com todo o corpo a cada nova idéia, a cada hipótese confirmada, a cada pequeno avanço teórico, a cada contribuição ao conhecimento. Como os apaixonados, é preciso dar valor às pequenas coisas, para com elas, se construir grandes obras.
Acho que os vídeos que acompanham esse texto são uma pequena, porém significativa, demonstração do que pode esse sentimento. Neste mar de queixas, de descaso e de desrespeito que se tornou a nossa educação pública, podemos ver duas ilhas de envolvimento e competência transformando radicalmente a vida de estudantes que tinham encontro marcado com o fracasso em um futuro mais ou menos distante. Creio que são bons exmplos para fortalecer aquela nossa vontade de mudança, por vezes enfraquecida pelo pessimismo circundante.
Finalizo lembrando as palavras repetidas do Renato Russo: "Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria..."