sábado, 27 de agosto de 2011

Teoria da Mente.



 Hoje, 27 de agosto, comemoramos o dia do psicólogo. Como manda a  boa cartilha do politicamente correto, devemos sempre dizer e escrever "do psicólogo" e "da psicóloga", até por que, acredito que o número de mulheres ainda é bem superior ao de homens exercendo essa profissão.
É bastante comum em datas comemorativas, buscarmos sempre algo especial para mostrar, algo que nos represente, que sintetize aquilo que somos, temos, pensamos ou fazemos. Dada a já conhecida diversidade da Psicologia, a tarefa de encontrar algo comum às mais diferentes maneiras de defini-la, de dellimitar o seu objeto de estudo e de agir consoante com esses princípios, se torna praticamente (senão totalmente!) impossível. Todavia, entre a imponderável e "obsoleta" ALMA (termo presente na raiz etimológica da palavra Psicologia, praticamente em desuso na atualidade) e o pretensamente objetivo COMPORTAMENTO (o Behaviorismo chegou a ser cogitado como o nome mais adequado para substituir Psicologia), creio que grande parte daqueles que fazem parte do nosso métier aceitam que a MENTE (com toda polissemia que o termo carrega), mesmo não sendo o único, é o principal objeto de estudo da Psicologia.
Em verdade, a capacidade de "ter acesso" ao conteúdo mental de outrem não é um privilégio exclusivo dos psicólogos ou de outros profissionais da área PSI. O que nos diferencia das outras pessoas é, certamente, a qualidade deste acesso, já que a inferência de estados mentais como crenças, desejos, sentimentos, etc., é uma característica fundamental na espécie humana. Desde o famoso artigo dos primatologistas David Premack e Woodruff (1978), há um intenso debate sobre a possível existência de uma Teoria da Mente em primatas não humanos. Teoria da Mente (Theory of Mind), aliás, foi o termo proposto por esses últimos autores que inauguraram um campo de pesquisa bastante profícuo e de significativo valor para a compreensão do comportamento humano.

Representação esquemática
da prova de falsa crença.
  Teoria da Mente (vale a pena ler Jou & Sperb, 1999) diz respeito à capacidade de imputar estados mentais (como conhecimento, crenças, desejos, intenções) a si mesmo e aos outros indivíduos. A despeito das variações decorrentes das abordagens teórico/metodológicas, estima-se que as crianças adquirem essa capacidade entre os 3 e 5 anos de idade. O critério mas comumente utilizado (como tudo em psicologia, também sujeito a críticas) para avaliar a conquista desta capacidade é o desempenho das crianças na chamada prova de falsa crença. Como bem representado no vídeo abaixo e esquematizado na figura ao lado, a prova de falsa crença consiste em solicitar aos participantes que antecipem o comportamento de uma determinada personagem (geralmente uma boneca) que não possui o mesmo conhecimento sobre a situação que o sujeito que deve prever possui. Se este sujeito afirma que a personagem irá se comportar de acordo com a informação que ele tem (mas ela não), isto significa que ainda não desenvolveu plenamente a teoria da mente. Se o sujeito, entretanto, abstrai o seu próprio conhecimento e consegue pensar a partir do conhecimento (neste caso, do que falta) do outro, significa que ele se encontra em outro patamar de desenvolvimento, tendo adquirido (ou construido) uma Teoria da Mente.
Esta capacidade, desenvolvida ao longo da nossa trajetória filogenética, foi para oa nossos ancestrais e é, ainda hoje, crucial para a nossa vida em sociedade, pois nos ajuda a lidar com os outros a partir de um ponto de vista que não é unicamente o nosso, tornando-nos capazes de comunicar, predizer comportamentos, reconhecer sentimentos, estabelecer relações de empatia e cumplicidade. Sem esse componente no nosso amplo leque de habilidades, talvez não chegássemos a constituir sociedades organizadas. Se conseguíssemos, seria certamente uma sociedade de autistas, já que diversos estudos têm demonstrado que o autismo é uma patologia decorrente de um problema no desenvolvimento da teoria da mente.
A partir, portanto, de teorias SOBRE a mente (ou sobre o funcionamento mental, a consciência, a alma ou o comportamento) os psicólogos (e também os educadores!!!) devem buscar dar continuidade ao desenvolvimento da sua Teoria da Mente natural, para que possa exercer da melhor maneira possível essa tarefa de compreender o outro em qualquer que seja o contexto de atuação. 




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