sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lousa digital, professor analógico, educação anacrônica...

O professor Carles Monereo, da Universidade de Barcelona, chama a atenção, numa palestra sobre avaliação, que pode ser assistida no youtube, que os alunos de hoje nasceram em um mundo de "telas". São as telas dos jogos eletrônicos, dos celulares, dos computadores, etc. Estes alunos são, ainda segundo Monereo, nativos digitais, enquanto que nós professores somos imigrantes no uso destas chamadas novas tecnologias.
Nada mais justo, então, que preparar esses jovens para a vida, com as ferramentas que a vida exigirá deles. Isso significa dominar não somente os conhecimentos necessários para lidar consigo mesmo, com o outro e com o ambiente, mas também ter um domínio da tecnologia que envolve e dá suporte a esses conhecimentos.
Não se deve esquecer, entretanto, que toda mudança significativa na maneira de educar requer mais trabalho para o professor. Mesmo que novos métodos ou tecnologias venham tornar mais eficientes as práticas pedagógicas, o professor terá sempre que realizar um esforço de mudança, lidar com a insegurança diante do novo e assumir novas responsabilidades, para as quais ele não foi devidamente preparado. Estudos sobre a saúde do professor têm demonstrado que o aumento de exigências e expectativas da sociedade para com as funções docentes têm sido algumas das principais causas de adoecimento dessa categoria.
No entanto, temos que admitir que o avanço tecnológico é irreversível. Quem estiver em sala de aula pelos próximos cinco ou dez anos certamente vai se deparar com a necessidade incontornável de aprender a utilizar esses novos instrumentos de auxílio à aprendizagem, aposentando definitivamente a lousa e o giz. Preparemo-nos, então, para o futuro!
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Muita coisa ja foi escrita sobre as chamadas tecnologias da informação e da comunicação (TICs), bem como sobre e-learning e EAD, suas representantes no campo educacional. Como este é um blog sobre psicologia e educação, vou recomendar um livro que faça uma relação entre essas temáticas. Organizado pelos professores César Coll e Carles Monereo (já citado acima), da Universidade de Barcelona, "Psicologia da Educação Virtual: Aprender e Ensinar com as Tecnologias da Informação e da Comunicação" (Artmed, 2010) é um livro que pode nos ajudar a refletir sobre o impacto das TICs no ensino e na aprendizagem, do ponto de vista da psicologia da educação.






11 comentários:

  1. Lousa digital, professor analógico e pediatra manual:

    http://psicologiaeeducacao.wordpress.com/2010/07/02/a-multimidia-e-as-criancas/

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  2. Valeu, Paulo. Li a postagem desse blog, que, inclusive, tá na lista de blogs, aqui ao lado.
    Não tenha dúvida que o assunto deve ser devidamente discutido e os prós e contras devem ser pesados.
    Todavia, como muitos temas polêmicos que criamos com o avanço tecnológico (alimentos transgênicos, células tronco, manipulação genética), creio que o uso das tecnologias é mesmo irreversível, embora não seja incorrigível...

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  3. A lousa digital realmente facilitaria e muito o trabalho em sala de aula, principalmente, a atrair os alunos que já cansaram de lousa e giz, mas junto a isso precisamos de professores não apenas "reciclados", mas formados para utilizar as tecnologias de forma consciente e significativa.

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  4. Precisamos de professores conscientes do seu trabalho, de professores profissionais, que saibam porque, como e quando fazer. A tecnologia não é um fim, é apenas um meio que pode servir a distintos objetivos. Daí a necessidade da competência e da postura ética!

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  5. Certamente as novas tecnologias são um grande avanço (ou suporte) para nós educadores. Entretanto, em alguns lugares do nosso país esses avanços teimam em não chegar e quando chegam custam a emplacar. A mudança de postura deve partir não somente de nós professores, mas também daqueles que gerenciam nossos fazeres. Um suporte para ajudar professores no entendimento da aplicabilidade de tais tecnologias é umas necessidade urgente.

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  6. Sem dúvida, como quase tudo em educação, e principalmente em educação pública, a formação do professor deve ser repensada. Diante de tantas exigências, o professor não pode mais ter uma formação aligeirada e deficitária na forma e no conteúdo, como tem sido até então. Além de boa preparação, entretanto, é fundamental que o professor tenha as condições ideais de trabalho, um salário compatível com a sua responsabilidade e "elementos" pedagógicos condizentes com a formação de sujeitos plenos, que possam construir uma vida melhor para sí, para os outros e para o planeta.

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  7. Olá, Iron!

    A iniciativa do blog é muitíssima interessante. Aproveito para fazer um breve comentário acerca do texto “Lousa digital, professor analógico, educação...” A tecnologia não pode e não deve ser analisada com um ar de neutralidade. As diversas formas de organização social produziram formas de tecnologias diferentes. A máquina, a expressão da tecnologia na ordem do capital, tem uma função social de legitimação dessa mesma ordem. A Escola de Frankfurt, sobretudo Adorno e Marcuse, não nutria nenhuma perspectiva otimista em relação ao desenvolvimento tecnológico. Lembro que vivemos uma época de profundo avanço tecnológico, mas acompanhado de um profundo empobrecimento espiritual. Uma sociedade complexa de seres humanos simples. Aristóteles foi um homem genial, sem computadores, sem carro e sem celulares. Não advogo o retorno das formas “primitivas” de produção, não sou romântico, mas acho que não podemos, sob pena de um culto ao desenvolvimento tecnológico, desprezar a crítica romântica a forma de produção da modernidade do capital. Emancipar os homens só será possível com arte, poesia, teatro. A tecnologia da modernidade do capital foi que permitiu o extermínio de milhões de judeus, já nos dizia Adorno. A bomba atômica só foi possível de ser desenvolvida como parte do desenvolvimento científico da modernidade. Por fim, digo, afirmo, que o uso exagerado de recurso tecnológicos em sala está empobrecendo o processo de criatividade. Conheço professores excelentes que se tornam medíocres em frente a um computador lendo slides.

    Forte abraço,

    Sinval

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Sinval,
    Concordo com você em relação à ausência de neutralidade da tecnologia. Por isso, acho importante as posturas críticas frente aos supostos "avanços tecnológicos" badalados pela mídia, para que não percamos de vista que esses avanços se dão, muitas vezes, às custas da degradação pessoal, social e ambiental.
    Me acostumei a pensar, contudo, que nada criado ou utilizado pelo homem tem valor intrínseco. Você fez referência a utilizações nocivas da tecnologia, como a guerra e o holocausto, mas poderíamos também fazer um levantamento de uma série de benefícios advindos do desenvolvimento tecnológico.
    Uma coisa é certa, e creio que concordemos, eu e você, com ela: a tecnologia deve estar a serviço do homem, e não o contrário. Isto é, deve servir como meio para melhorar a vida de todos (e não de poucos), ajudando-os a desfrutar de toda a sua potencialidade enquanto ser humano, visando sempre o equilíbrio entre o bem-estar individual e coletivo.
    Seguindo a linha de que a tecnologia - e nehuma outra coisa - é boa ou ruim "por natureza",também não concordo que ela necessariamente diminua a nossa capacidade de pensar ou de criar. Confesso que estou tendo que refletir bastante para apresentar argumentos à altura dos seus. Esse nosso "micro-debate" está sendo possível justamente pela tecnologia, pois, diante do rumo que as nossas vidas tomaram, sem esse "espaço virtual", o debate seria inviável! A descentralização dos processos de produção da informação e do conhecimento deram o poder de autoria a quem antes apenas consumia esses produtos da cultura. E este é um avanço inegável para a formação intelectual dos nossos futuros jovens...
    Enfim, precisamos mesmo preparar as pessoas para poderem escolher e viver dignamente com ou sem tecnologia!
    Abço!

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  10. ProfºIron,

    Este assunto muito me interessa..rsrs !
    Concordo plenamente com fala final de Evaristo Costa "Agora Cabe aos professores atualizarem-se", uma vez que, os alunos já possuem um certo dominio nas tecnologias digitais. E essa "atualização" deve começar pelos espaços de formação, como universidades. Devemos sair do estágio de "acomodação" para o estágio da ação...assim teremos um aproveitamento consistente dessas inovações tecnológicas na educacao, caso contrário,eles se tornarão obsoletas...

    Albano Goes

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  11. Pois é, Albano!
    Sei que o assunto toca ao seu olhar de pesquisador. Eu também acredito que a universidade tem um papel decisivo na preparação do professor, para que ele possa lidar bem com esse novo cenário, onde se desenrolam as ações educativas.
    Todos nós que temos como função a formação docente, devemos assumir a responsabilidade de de preparar os professores para o que poderá ser a educação num futuro próximo, e não apenas pensar em como lidar com a situação em que ela se encontra hoje.
    As céleres mudanças na relação com o conhecimento, nos impele a sempre tentar enxergar mais longe que o habital...
    Abço!

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