sexta-feira, 25 de junho de 2010

A voz do excluído!

Paira sobre o pensamento dos nossos professores e professoras a idéia que os alunos se dividem em dois grupos, a saber: o dos que não querem nada e o dos que querem alguma coisa, sendo o primeiro muito maior do que o segundo.
Reside nesta classificação simplista, uma concepção de motivação, que devemos questionar. Primeiro, por que concebe a motivação como algo que deve existir previamente, talvez seja inata, e não algo que se constrói na relação com o objeto que deve provocar o interesse. Segundo, por que responsabiliza os alunos por não gostar de algo do qual toda a trama histórico-política-social-e-econômica tem como objetivo fazer com que ele não goste e que abandone o quanto antes. Terceiro, por que não consegue enxergar que os alunos querem sim muita coisa, mas não querem de qualquer jeito; não querem desse jeito que está aí...
Esta maneira de pensar tem uma outra consequência bastante grave: a de levar os professores a discriminar os seus alunos, principalmente os oriundos de famílias de baixa renda. Em verdade, existem escolas onde podemos perceber nos semblantes e nas falas dos professores, que, para eles, aqueles alunos não deveriam estar ali. Não deveriam tomar o precioso tempo deles, posto que, no imaginário desses profissionais, a educação escolar não romperá a impermeabilidade mental desses estorvos da sociedade. E assim, se perpetua nocivamente uma idéia bíblica: a quem tem, mais será dado; a quem não tem, o pouco que tem lhe será tirado...
Não deve sair do pensamento de nenhum educador, seja parente ou profissional, que crianças e jovens constroem a sua identidade a partir do "outro". Ou seja, precisamos do olhar  - e da voz e das ações - do outro em nossa direção, para sabermos quem somos. O adulto significativo (pais, professores, etc.) serve como um espelho que reflete a imagem que o sujeito em desenvolvimento tem de si. Se nós refletimos insistentemente uma imagem negativa de nossos alunos, é assim que eles passarão a se ver e se comportarão de acordo com essa expectativa. Porém, se buscamos nesses alunos, pontos positivos, que podem ser espelhados para que eles se vejam como capazes de realizar coisas boas, é bastante provável que eles gostem dessa imagem e resolvam adotá-la como definitiva.
O depoimento postado abaixo é uma reflexão muito lúcida, de um ponto de vista que tem sido pouco abordado: o de um aluno, de quem muito se fala, mas pouco se escuta. Sei que toda história tem tantas versões quanto envolvidos. Mas essa é uma versão que não deve mais ser negligenciada, se o que realmente buscamos é a solução para o triste caso da nossa educação.


2 comentários:

  1. Mas porquê você vive dizendo: "nós educadores só lembramos de dois tipos de alunos: os bons e os péssimos porque dos intermediários, aqueles que nada contribuem, aqueles que não abrem a boca, que tanto fez tanto faz estar ali, nos passam despercebidos"? Você não acha que se enquadra no perfil desses professores acima?

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  2. Sr ou Sra anônimo(a). Sua questão é bastante instigante. Porém, me permita fazer uma correção. Quando digo que nos lembramos dos bons e dos péssimos, e não daqueles que nada contribuem, sempre me refiro aos PROFESSORES que tivemos, e não aos alunos.
    Quanto ao fato de eu me enquadrar no perfil destes professores, somente você e cada um dos meus alunos em particular podem realizar essa avaliação. Da minha parte, estou convicto que fui um PÉSSIMO professor para alguns alunos, MEDIANO para outros e EXCELENTE para os demais.
    Mas sempre me esforcei para fazer o melhor e aprender com os erros.
    Espero que tenha respondido a sua questão e peço que, se houver outra postagem, você se identifique, para que eu possa levar em consideração seus conhecimentos prévios...

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