segunda-feira, 19 de abril de 2010

Imitação



         Há um aspecto que parece ter sido esquecido entre nossos educadores, sobre os processos de aprendizagem humana: boa parte do nosso comportamento foi adquirida por meio da imitação. A evolução filogenética nos legou esse poderoso mecanismo de adaptação. Sendo a linguagem algo relativamente recente em nossa história evolutiva, não poderíamos contar com a instrução direta para responder às demandas do meio com comportamentos que não fossem inatos. Sendo assim, poder observar alguém realizando algo e, posteriormente, replicar esse comportamento foi uma sábia solução da natureza. Michael Tomasello, no livro "Origens Culturais da Aquisição do Conhecimento Humano", chega a afirmar que "crianças entre um e três anos são, em muitos sentidos, 'máquinas de imitação'"(pg. 71).
A importância de levarmos em consideração este aspecto imitativo da aprendizagem reside em pelo menos dois pontos importantes, quais sejam: Em primeiro lugar, a imitação garante um repertório mínimo de comportamentos que podem ser adquiridos tanto na ausência da linguagem, quanto na falta da própria intenção de ensinar estes comportamentos, sendo, portanto elemento crucial para a transmissão cultural.
Em segundo lugar, trazendo a reflexão para o nosso campo de atuação profissional, creio que a pouca importância que é atribuída ao tema da imitação traz conseqüências pouco proveitosas para a educação formal. De muito pouco adianta dizermos aos nossos educandos – sejam eles filhos, alunos ou mesmo professores em formação - o que fazer, se não reforçarmos essas instruções com exemplos. Um filho ou aluno sistematicamente desrespeitado, ficará refratário às recomendações de respeito. Um futuro professor ensinado por meios não-construtivistas, não saberá atuar de forma construtivista, apenas lendo os teóricos da área.
Escolhi esses dois exemplos, por que têm sido recorrentes no meu trabalho como professor de futuras/os pedagogas/os. Infelizmente, tenho constatado que ainda há uma fé - que, se não é cega, tem muitos graus de miopia - na força do discurso para modificar os comportamentos de outrem. Não há como não lembrar o popular "faça o que eu mando, não faça o que eu faço"... Sem abandonarmos essa idéia, tão antiga quanto inadequada, não vamos ajudar ninguém a assumir idéias novas e mais inteligentes.



3 comentários:

  1. é impressionante como não nos damos conta que fatos tão corriqueiros de nosso dia a dia,sejam tão nocivos à nossa sociedade,nos preocupamos tanto em condenar "o pai que mata a filha" mas somos omissos na formação de nossas crianças e até mesmo com a nossa formação .Somos tão moralistas e ao mesmo tempo tão indiferentes aos principios da moral.Precisamos rever tantas coisas...e não só agora, mas todo dia!

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  2. Bacana sua iniciativa Iron, parabéns!!!!!!!!!!!!!!bjs

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  3. Interessante,pois precisamos mostrar o nosso lado humano e saber que a criança necessita de grandes atitudes que o faça mudar esse comportamento.

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