sábado, 15 de outubro de 2011

PROFESSOR, prazer em conhecer!






   Uma coisa tem me intrigado no campo da educação. Sendo mais sincero, na verdade, tem me incomodado bastante. Me acompanhe no raciocínio e me diga se tenho razão. Mas, de antemão, aviso que é algo que vai na contramão do que andam dizendo por aí.
   Se observarmos o desenvolvimento de profissões tradicionais como a medicina, a engenharia e a administração, por exemplo, constataremos que a mudança, tanto nas práticas quanto nas idéias que as norteiam, foi significativa, para não dizer "radical", nos últimos tempos, principalmente em função da consolidação do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológico. Diante destas transformações, até esquecemos que houve épocas em que banhos frios foram prescritos como tratamento para enfermidades, que banheiros eram construídos do lado de fora das casas e que crianças eram admitidas em fábricas para trabalhar por mais de dez horas por dia.
   Tanta mudança nos leva até mesmo a pensar se estamos falando das mesmas profissões. A despeito disso, não vejo nestes meios profissionais (e pode ser apenas falta de informação da minha parte) nenhum movimento para renomear as suas profissões. Os médicos não querem ser chamados de "promotores de saúde"; os engenheiros não querem ser chamados de "solucionadores de problemas tecnológicos"; os administradores não querem ser chamados de "gestores de talento".
   Curiosamente, no âmbito da educação parece ocorrer algo inverso. Sendo uma das mais antigas  profissões (há quem diga que a prostituição é a mais antiga!), muitos defendem que esta é a área da atuação humana que menos apresentou transformações no seu modus operandi. Contar o que aprendeu para aqueles que (imagina-se que) não sabem, ainda se conserva como núcleo duro das práticas pedagógicas levadas a cabo na maioria das nossas escolas.
Carl Rogers (1902-1987)
   A despeito desse conservadorismo na maneira de exercer a profissão, muitos também reconhecem que as idéias em torno do ato de ensinar têm evoluído bastante. E, junto com esta evolução, aparecem as propostas para mudar o nome dado àquele que ensina. Na década de 1970, o psicólogo americano Carl Rogers traz para a área da educação as suas idéias desenvolvidas no âmbito da psicologia clínica e lança um livro chamado "Liberdade Para Aprender", no qual defende que o professor deve ser um "facilitador". Bastou isso para que nossos docentes se apresentassem como facilitadores e não mais como professores.
Lev S. Vygotsky (1896-1934)
   Entre a segunda metade da década de 1980 e a primeira metade dos anos 90, começam a se popularizar as idéias do psicólogo soviético Lev S. Vygotsky. Entre estas idéias, estava a afirmação que toda atividade humana é mediada. De maneira um tanto quanto apressada, comportando todos os equívocos que a pressa provoca nesses casos, muitos dos que ensinavam se declararam "mediadores" e não mais professores.
   Aqui no Brasil, entretanto, é também nos anos oitenta do século passado que começa a ganhar força o principal concorrente para a denominação do professor. O escritor Rubem Alves publica um pequeno livro chamado "Conversas Com Quem Gosta de Ensinar", cujo primeiro capítulo intitula-se "Sobre Jequitibás e Eucaliptos". Creio que vale a pena ler os dois parágrafos que sintetizam a ideia principal do texto:
   Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma fase, um nome, uma "estória" a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma "entidade" sui generis, portador de um nome, também de uma "estória", sofrendo tristezas e alimentando esperanças.  E a educação é algo pra acontecer neste espaço invisível e denso que se estabelece a dois. Espaço artesanal.
   Mas professores são habitantes de um mundo diferente, onde o "educador" pouco importa, pois o que interessa é um crédito cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isto mesmo professores são entidades "descartáveis", da mesma forma como há canetas descartáveis, coadores de café descartáveis, copinhos plásticos de café descartáveis. (p.13).
   
Paulo Freire (1921-1997)
   O termo "educador", muitas vezes utilizado por Paulo Freire e outros tantos pensadores representativos no meio educacional, seria, portanto, reservado para aqueles que atingissem a magnitude profissional que o limitado termo "professor" já não comportaria mais (veja aqui uma entrevista com Antoni Zabala). Para os que não conseguiram ser alçados a tão nobre categoria, nada mais resta senão o sentimento de ser descartável. Um copinho plástico de café...
  Vejo que nestes tempos de incerteza em relação ao futuro, de indefinições sobre certo e errado, de multiplicidade de teorias e, fundamentalmente, de desvalorização docente, essas propostas de alteração de nomenclatura só acrescentam ansiedade e tristeza aos nossos professores. Sim, aos professores! Aqueles que precisam enfrentar um cotidiano bem menos romântico do que o que habita a mente dos escritores, e que foi perfeitamente sintetizado pela professora Amanda Gurgel num vídeo amplamente divulgado na internet.
Amanda Gurgel
   Aqueles profissionais que, não obstante as adversidades postas pelo descaso dos governos, conseguem ensinar para além da sala de aula e da burocracia que certifica a aprovação neste ou naquele curso, têm que se deparar, também, com o objetivo talvez inatingível de ser mais que um trabalhador qualificado, responsável, comprometido e competente. O que seria a meta de qualquer outro profissional com condições de trabalho muito mais favoráveis, não basta para o professor, na visão de alguns teóricos que, à frente de seus computadores, não conseguem enxergar o valor de pequenas, porém significativas, conquistas que acontecem em sala de aula.
   Concluo afirmando que acredito nos PROFESSORES. Após quase duas décadas trabalhando com a formação docente, posso afirmar que, se tiverem as condições adequadas para o exercício da sua profissão, certamente farão muito mais e melhor do que já fazem, sem que com isso tenham que se apresentar de maneira diferente. Também sou testemunha de que muitos não têm as condições ideais, mas ainda assim, fazem a diferença na vida dos seus alunos, o que é mais que louvável. A tod@s est@s, desejo dias muito felizes e um ótimo dia d@ professor@!!!





4 comentários:

  1. engraçado que ao responder a enquete fui atribuindo os meus conceitos praa cada palavra daquelas e acabei por definir que só o professor reunia todas elas.. unido a isso veio as minhas recordações de infancias, d@s minh@s professoras (es) .. ou carinhosamente prós e profs.....e o quanto é boa de falar(e hoje posso dizer també, de ouvir) essa palavra. Assim, quero dizer que concordo que não será a mudança no mome do profissional que transformará a educação, mas sim a verdadeira mudança de postura frente ao fazer docente.
    Elvira Pimentel.

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  2. Acho que você sintetizou bem a idéia que eu tentei comunicar no texto, Elvira. Sem falar que eu também adoro o som da palavra "professor". Ainda hoje, eu gosto de me dirigir dessa maneira aos meus professores e também aos colegas de universidade.

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  3. Só declarando meu voto...gosto mesmo é de ser chamada pelo meu nome...assim como procuro aprender o nome de cada colega que compartilha conosco esse espaço de aprender juntos, incessantemente.

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  4. Ivone,
    Acho que essa é uma opção interessante. Diminui a assimetria na relação pedagógica e ajuda a estabelecer o diálogo. Mas, em algum momento a gente tem que se referir à nossa profissão, dizer a que categoria pertencemos. A questão da enquete caminha nesta direção.
    Um grande abraço!

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