O livro do Philippe Ariès - "História Social da Criança e da Família" - é uma referência obrigatória para quem quer compreender as mudanças na concepção de infância na nossa cultura ocidental. Nesta obra, o autor descreve a maneira como se lidava com os infantes, que, para o pensamento da época, não passavam de "adultos em miniatura", expressão que já ficou popular dentre os que tratam do tema.
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"Rainha Henrietta Maria" Frans Pourbus Séc XVI |
Mais recentemente, ainda em nossa cultura, com a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da probabilidade de sobrevivência, resultado dos avanços sócias e das condições de saúde, os filhos das classes sociais com algum poder aquisitivo, deixaram de ser importantes na composição do orçamento doméstico. A concepção de criança foi sendo pouco a pouco "infantilizada". Com os avanços das teorias psicológicas, passou-se a enxergar os primeiros anos de vida como uma etapa diferenciada no desenvolvimento das pessoas, com repercussões duradouras sobre o restante de suas vidas.
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"Retrato de Criança" Mirabello Cavalori Séc. XVI |
A infância seria, portanto, uma fase de liberdade, onde a felicidade deve estar sempre presente (pelo menos, em tese), e quem se encontra nesta etapa da vida, caracteriza-se por diferenças não apenas quantitativas, mas principalmente qualitativas,em relação àqueles que a ultrapassaram.
A despeito de toda essa mudança na maneira de se conceber a infância, os tempos atuais parecem querer reviver a idéia de criança como "adulto em miniatura".
Se o trabalho infantil é visto como nocivo para o bom desenvolvimento, sendo combatido pelas autoridades e organizações pró-criança, o consumo nessa faixa etária ainda não parece incomodar aqueles que fazem nossas leis.

O que resulta desse descaso de uma parte da nossa sociedade (família, governo, escola), é uma "brecha" significativamente bem aproveitada por uma outra parte (indústria, comercio e serviços), que se utiliza do lugar central das crianças nas famílias de hoje, para induzi-las ao consumo desenfreado, inculcando e antecipando em meninos e meninas, aspectos negativos do comportamento de homens e mulheres, cada vez mais preocupados com o acúmulo material, com a aparência, com a frivolidade e a ostentação.
O primeiro vídeo exibido nesta postagem é um trailer de um documentário intitulado "Criança, a alma do negócio", que pode ser baixado no site http://www.alana.org.br/, de uma organização que objetiva discutir o consumismo infantil. Há um outro documentário, sobre o mesmo tema que pode ser assistido no youtube, que se chama "Consumo de crianças - a comercialização da infância".
Os demais vídeos, são matérias sobre a vaidade infantil, um dos principais motores do consumo, já que a indústria da beleza dispõe de um leque bastante amplo de possibilidades (e preços!!!) para aqueles que desejam (ou são levados a desejar) estar sempre acompanhando as tendências da moda. É importante salientar, que nenhum dos comportamentos resultantes da influência da mídia sobre as "necessidades" da criança, são inofensivos. Além de moldar valores, eles podem ter um consequências nefastas para a própria saúde.
Vale a pena conferir!!!