domingo, 24 de outubro de 2010

Inclusive, incluindo...





Não será difícil, após um brevíssimo sobrevoo histórico, chegar à conclusão de que a divisão social calcada na idéia de que existem pessoas que têm mais valor que outras, parece ser uma “inclinação”, ou forte tendência, do comportamento humano.Os nossos livros de história, da educação básica, nos lembram da cidade de Esparta, onde aqueles bebês nascidos com algum tipo de defeito físico eram sumariamente assassinados. A própria Grécia antiga, considerada por muitos o berço da cultura ocidental, bem como das idéias fundadoras da democracia, fazia uma distinção clara dos papéis de cidadãos homens, mulheres e escravos na dinâmica da participação política, reservando apenas aos primeiros, o direito de decidir os rumos da sociedade da época.

A escravidão, aliás, que nada mais é que suprimir, de indivíduos ou grupos sociais e/ou étnicos, direitos essenciais à dignidade humana, foi, ao longo de toda antiguidade e Idade Média, uma prática comum e aceita nos diversos sítios do nosso planeta. A despeito do pensamento generalizado de que esta é uma prática inaceitável nos dias de hoje, não podemos dizer que estamos totalmente livres dela. A estruturação de algumas sociedades pelos sistemas de estamento e castas, como por exemplo no feudalismo e na sociedade indiana, também reflete claramente esta idéia de que alguns indivíduos são nitidamente melhores do que outros, pelo simples fato de terem nascido em uma determinada família e sem que tivessem que fazer nenhum esforço para conseguir o status de privilegiado. A segregação de grupos étnicos, como negros, judeus, ciganos, etc. ainda é algo vivo na nossa memória histórica, e aqui e ali, representantes desses grupos ainda sofrem as consequências da sua ascendência, tendo muitas vezes que empreender grandes esforços para que direitos garantidos por lei, possam ser, por eles, desfrutados.

Para não deixar de lado a nossa própria filiação teórica e profissional, devemos lembrar que a Psicologia foi, em muitos momentos, uma ciência que colaborou com a manutenção das desigualdades sociais, tentando explicar “cientificamente” que era justo que pessoas com qualidades diferentes tivesses privilégios diferentes na sociedade. Desde Franz Joseph Gauss, no século XVIII, com a proposta de avaliar as características humanas por meio da Frenologia, passando por Sir Francis Galton, no século XIX, com a proposta do melhoramento da espécie por meio da Eugenia, até chegar aos testes de inteligência, instrumento que mais caracteriza a atuação do psicólogo, a Psicologia apresenta uma passado não muito louvável na defesa da igualdade de direito entre as pessoas. A discussão sobre a real utilidade dos testes de inteligência, desde sua primeira versão, proposta por Alfred Binet, no início do século passado, ainda tem muita força em algumas sociedades, principalmente nos EUA, onde a economia que mantém o sistema educacional depende fundamentalmente desses instrumentos de avaliação (supostamente) das capacidades humanas.

A universidade, instituição seletiva e elitista por natureza e tradição, tem obrigação de contribuir para mudar o curso dessa história. Ao empenho teórico de criticar idéias arcaicas e propor novas formas de pensar a relação entre os indivíduos e a diversidade que os rodeiam, deve-se agregar os exemplos práticos, mostrando à sociedade uma postura coerente, que deve ser seguida se pensamos em um mundo mais inclusivo e acolhedor. Espero que os vídeos dessa postagem possam contribuir para que reflitamos sobre a inclusão em um setor tão representativo para a chamada "opinião pública".